O Batuque no Rio grande do Sul:Príncipe Custódio
Detenho-me agora, mesmo que sucintamente, sobre um dos mais
controvertidos personagens do campo afro-gaúcho, um príncipe africano, herdeiro
do trono de Benin, que morou no Rio Grande do Sul de 1899, quando chegou à
cidade de Rio Grande, até 1935, quando faleceu em Porto Alegre.
Segundo informações colhidas por Maria Helena Nunes da Silva
junto a diferentes fontes — bibliográficas, intelectuais africanos e,
sobretudo, dois filhos biológicos de Custódio — este descendia da tribo
pré-colonial Benis, dinastia de Glefê, da nação Jeje, do estado de Benin, na
Nigéria. Seu nome tribal era Osuanlele Okizi Erupê, filho primogênito do Obá
Ovonramwen (Silva, 1999).
Há diferentes versões sobre sua saída da terra natal. Todas,
porém, estão associadas à invasão britânica ao reino de Benin, em 1897, diante
da qual não se sabe ao certo se Osuanlele teria resistido, ou fugido, ou,
então, feito um acordo com os britânicos para deixar o país e viver no
estrangeiro, onde receberia mensalmente uma pensão do governo inglês (a mais
provável).
De fato, Dionísio Almeida, filho de Custódio, relatou a
Maria Helena que seu pai teria deixado Benin em direção ao Porto de Ajudá,
acompanhado por oficiais ingleses e por parte do seu Conselho de Chefes, onde
teria permanecido por cerca de dois meses, dali embarcando para o Brasil, tendo
chegado ao porto de Rio Grande em 7 de setembro de 1899, com uma comitiva
formada de 48 pessoas, em sua maioria membros do seu Conselho.
Segundo aquele informante, antes de chegar a Rio Grande
Custódio teria estado em Salvador, depois no Rio de Janeiro, tendo se
estabelecido em Rio Grande por orientação dos orixás, através dos ifás.
Custódio permaneceu nesta cidade até o dia 4 de outubro de 1900, quando se
transferiu para Pelotas, e no dia 4 de abril de 1901 veio para Porto Alegre, a
convite do então presidente do estado, Julio de Castilhos, que algumas semanas
antes o teria procurado em Pelotas como último recurso para remediar um câncer
que tomava conta de sua garganta.
Como teve uma melhora temporária, teria convidado Custódio a
morar em Porto Alegre para continuar a tratá-lo nesta cidade, o que não
impediu, porém, a morte de Julio de Castilh
A religiosidade afro-gaúcha distingue Oro, se manifesta em
três vertentes. A mais fiel à ancestralidade africana é o batuque, congênere do
candomblé e também chamado de nação, em referência a territórios de origem dos
escravos, como jeje, cabinda e nagô. Seus praticantes, fiéis a símbolos
trazidos da África e à língua iorubá, cultuam 12 orixás – Bará, Iemanjá, Obá,
Odé, Ogum, Oiá (Iansã), Otim, Ossanha, Oxalá, Oxum, Xangô e Xapanã,
identificados com santos católicos. A umbanda, que incorpora influências também
do espiritismo e das tradições indígenas, celebra em português entidades como
os caboclos, pretos-velhos e bejis (crianças). Terceira vertente desse complexo
religioso, a linha cruzada reverencia os exus, ciganos e pombajiras.

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